quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

TERAPIA OCUPACIONAL NOS TRANSTORNOS INVASIVOS DO DESENVOLVIMENTO




COMO A TERAPIA OCUPACIONAL ATUA NOS CASOS DE DISTÚRBIOS INVASIVOS?


A terapia ocupacional conta com vários modelos teóricos de intervenção e uma abordagem bastante usada na área infantil é a terapia de integração sensorial. A terapia de integração sensorial foi desenvolvida pela terapeuta ocupacional norte americana, A. Jean Ayres, que se dedicou ao estudo das bases neurobiológicas dos distúrbios de aprendizagem. Ela desenvolveu uma teoria que procura explicar como o cérebro organiza informações sensoriais de forma a produzir padrões estáveis de comportamento, que vão permitir a interação produtiva com o ambiente e a aprendizagem. Segundo Ayres (1988) " Integração Sensorial é o processo neurológico que organiza as sensações do corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente do corpo no ambiente". Tudo que nós fazemos no nosso dia-a-dia, depende de informações sensoriais, é o alarme sonoro do relógio que nos acorda pela manhã, é o molejo do ônibus que dá sonolência, o barulho irritante dos carros, o conforto tátil de um abraço amigo ou uma propaganda colorida que atrai nossa atenção. É um mundo vasto de informações sensoriais, que precisam ser organizadas, caso contrário, bombardeados por estímulos, nossa atenção vai flutuar de um ponto a outro, sem conseguir focar em algo e aprender com asinterações com o ambiente.


Crianças com falhas de processamento sensorial tendem a ser mais desorganizadas, muitas vezes tem dificuldade para prestar atenção e se relacionar com as pessoas, pois não organizam e interpretam informações sensoriais da mesma maneira que os outros. Apesar de todas as informações sensoriais serem importantes, a teoria de integração sensorial dá grande ênfase aos sistemas que processam informações do nosso corpo, nas quais nem sempre prestamos atenção, que são os sistemas tátil, vestibular e proprioceptivo. Estes sistemas, junto com a audição e a visão, mais estudados em outras abordagens, são considerados fundamentais para o desenvolvimento da criança.


O sistema tátil processa informações sobre aquilo que esta em contato com a pele, a temperatura, a textura, o formato e o deslocamento de objetos. Essas informações são vitais para nos proteger de perigo, por exemplo, quando retiramos rapidamente a mão que toca em um objeto quente, e são essenciais para o controle de movimentos finos, nos informando sobre a posição de objetos nas mãos, para que possamos manejá-los com destreza.O sistema vestibular, mais conhecido entre as pessoas como labirinto, localizado no ouvido interno, processa informações constantes sobre a gravidade emovimentação da cabeça em relação ao corpo, contribuindo para o controle do tônus postural, do equilíbrio e para o controle da movimentação reflexa dos olhos, que ajuda na orientação espacial no ambiente e influencia também nosso nível de alerta A estimulação do sistema vestibular, através do balanceio rítmico ou do girar e rodar, é muito usada de maneira intuitiva pelas pessoas. Toda mãe sabe acalmar uma criança embalando-a no colo e muitos de nós procuramos na rede ou na cadeira de balanço o ritmo certo para desencadear um cochilo. É bom lembrar que a estimulação desse sistema pode ter efeitos potentes. Quem nunca sentiu náusea após rodar, andar de carro no banco de trás ou mesmo subir num daqueles estacionamentos com rampa circular? Quem nunca viu uma criança tão excitada após o dia no parque, balançando e movimentando, que ela nem consegue dormir?Propriocepção são as informações que recebemos dos músculos, ligamentos e articulações, nosinformando sobre a posição das partes de nosso corpo no espaço, a força e a direção de movimento. Essas informações nos permitem movimentar sem precisar constantemente olhar o que estamos fazendo, como quando abotoamos uma blusa, ou pegamos uma chave dentro da bolsa. A propriocepção, juntamente com o as informações vestibulares e táteis, nos dão sensaçõesbásicas para o desenvolvimento da consciência corporal, que vão guiar nossas interações físicas com o ambiente. Na maioria das pessoas os mecanismos de integração sensorial se desenvolvem normalmente, como resultados das brincadeiras infantis e interações com o ambiente, pessoas e objetos. Estas vivências vão promover uma série de estímulos, que pouco a pouco vão sendo organizados, para permitir maior controle dos níveis de alerta, com aumento da atenção dirigida e melhor potencial para aprendizagem. Segundo Ayres (1979) as sensações são como um alimento para o cérebro, mas a criança precisa desenvolver habilidade para organizar e interpretar essas informações, caso contrário é como se estivéssemos em um engarrafamento de trânsito, onde todos querem passar, mas as vias não são suficientes, gerando desorientação e frustração.


O QUE É A DISFUNÇÃO DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL?


"Meus sentidos são super sensíveis ao barulho e ao toque. O barulho especialmente quando é bem alto, dói meus ouvidos, e eu evito ser tocada para não ter que sentir aquela sensação opressiva" (Grandin, 1992,p.1). Esse trecho do relato de Grandin, uma autista adulta, famosa mundialmente por ricas descrições de suas experiências sensoriais na infância, descreve bem oque significa ter uma disfunção severa de integração sensorial. Disfunção de integração sensorial é conceituada como a inabilidade para modular, discriminar, coordenar ou organizar sensações de maneira adaptativa para responder adequadamente às demandas ambientais (Lane, Miller & Hanft, 2000). Geralmente as disfunções de integração sensorial são classificadas0 em problemas de modulação, como relatado acima por Grandin, e falhas na discriminação de estímulos. Modulação sensorial quer dizer capacidade para regular e organizar a intensidade e natureza daresposta aos estímulos sensoriais, ou seja nem resposta demais, ou hiper-reação, nem resposta de menos, ou hipo-reação. Cada um de nós tem um padrão de modulação, ou nível de alerta para certos estímulos, que varia de acordo com a tarefa e horário do dia. Observa-se, no entanto, que algumas crianças parecem estar sempre com os "nervos a flor da pele" e qualquer coisa as irrita. Outras se mostram mais apáticas, respondendo pouco ao ambiente, já algumas pessoas flutuam de um dia para o outro, ou de momento a momento, mostrando comportamento desorganizado e imprevisível. Padrões desorganizados de modulação sensorial tem grande impacto no comportamento e desempenho funcional e parecem bastante relacionados com alguns dos comportamentos observados em crianças com distúrbios invasivos (Weider, 1996).Os distúrbios de modulação sensorial mais comuns e mais bem descritos na literatura são relacionados aos sistemas tátil e vestibular. A defensividade tátil é um distúrbio de modulação caracterizada por reação aversiva ao contato físico com pessoas e objetos. A criança parece não gostar de ser tocada e muitas vezes rejeita beijos e abraços, o que acaba sendo interpretado como falta de afeto ou rejeição pelos cuidadores. Crianças com defensividade tátil parecem mais agressivas e agitadas, pois na tentativa de evitar contato físico, acabam por empurrar ou dar tapas nos colegas, se envolvendo em brigas e desencadeando confusão. Muitas vezes elas preferem brincar isoladas, evitando materiais como areia, grama e cola. A hipersensibilidade na boca e região perioral, pode resultar em problemas alimentares, pois a criança rejeita a texturade certos alimentos, sendo comum que a mãe prolongue o uso da papinha, para facilitar a alimentação. Apesar de ser uma disfunção de processamento sensorial, a defensividade tátil tem grande impacto na vida afetiva da criança, que desde pequena é caracterizada como birrenta, irritável, agressiva, o que acaba afastando os amigos e influenciando o relacionamento com os pais. Esse tipo de problema aparece várias vezes nas descrições de Grandin (1992), ela relata, por exemplo, que: "Quando as pessoas me abraçavam, eu ficava enrijecida e tentava me afastardelas para evitar a enxurrada de estímulos desagradáveis. Eu parecia um animalzinho feroz resistindo"(p.4) ..... "Eu sempre me comportava mal na igreja quando criança; minha anágua coçava e arranhava. As roupas de domingoeram diferentes na minha pele. O maior problema era a troca das calças que eu usava a semana toda para as saias no domingo... Hoje em dia eu uso roupas que tenham textura semelhante. Meus pais não tinham idéia de porque eu me comportava tão mal"(p.3).


ALGUNS SINAIS SUGESTIVOS DE DEFENSIVIDADE TÁTIL NA CRIANÇA:


• Reage negativamente ao contato tátil leve, podendo se esquivar ou se mostrar agressiva, empurrando ou unhando os colegas e pessoas que se aproximam para tocá-la. Às vezes só aceita o contato físico com a mãe ou cuidador.

• Evita abraços e beijos, é comum escorregar entre os braços ou esfregar a área onde foi beijada, como que limpando.

• Reage negativamente quando nos aproximamos por trás, se assustando com facilidade.

• Evita tocar ou demonstra aversão quando toca certas texturas, como areia, animais de pelúcia, bichos de borracha, certos tipos de tecido.

• Evita atividades táteis, tais como, massinha, pintura a dedo, cola nos dedos.

• Evita retirar as meias e andar descalça na grama ou no carpete.

• Tem peculiaridades com relação ao vestuário, preferindo roupas mais largas, mais velhas, semelástico ou golas mais justas.

• É chata para comer, não aceita a textura de certos alimentos, preferindo alimentação mais pastosa, cospe fora pedacinhos (ex: casca de tomate), escolhe muito o que come, separando coisas no canto do prato.

• Qualquer coisinha machuca ou dói, reclama de tudo, se alguém encosta, se toca um objeto frio. Tem reações exageradas a pequenos arranhões e ferimentos, às vezes até o vento, como o do ventilador, incomoda.


É comum que a defensividade tátil apareça associada a outros sinais de hiper-sensibilidade sensorial, como respostas aumentadas para odores e sons. Crianças hipersensíveis, como exemplificado no caso de Ricardo, no inicio do capítulo, tendem a ser muito irritáveis desdebebês, sendo difícil entender seu comportamento. Elas horam ao contato físico com os pais, rejeitam alimentos e se irritam com qualquer ruído, especialmente sons como o do secador de cabelo, liqüidificador e aspirador de pó.


Já os problemas de modulação na área vestibular, geralmente se manifestam pelo medo excessivo de movimento ou insegurança gravitacional, em que a criança não suporta tirar os pés do chão, chorando quando colocada em balanços e desenvolvendo verdadeiras fobias de parquinhos. Algumas crianças apresentam sinais de reposta aversiva ou de intolerância ao movimento, com reação de náusea e mal estar quando movimentadas ou balançadas, quando andam de carro, ou mesmo, quando são levantadas do chão. Todos esses problemas podem se apresentar combinados e em diversos graus de gravidade, como bem descrito na Classificação Diagnóstica de 0-3 (NCCIP), no que se refere a transtornos regulatórios no bebê e na criança pequena. Observa-se que quanto maior a severidade das falhas de modulação sensorial, ou quanto mais acentuada a hiper-sensibilidade a estímulos variados, maior a desorganização do comportamento. Tais problemas de modulação são vivamente ilustrados pelas descrições de Grandin:


"Minha audição funciona como se eu usasse um aparelho auditivo cujo volume só funciona no"super alto". É como se fosse um microfone ligado que capta todo o barulho ao redor. Eu tenho duas escolhas: deixar o microfone ligado e ser inundada pelo barulho, ou desligar. Minha mãe conta que algumas vezes eu agia como se fosse surda" (Grandin, 1992, p.2)"Quando eu era pequena, barulhos altos eram um problema, geralmente eu o sentia como sefosse a broca de um dentista pegando um nervo. Eles de fato me causavam dor. Eu tinha medo de balões estourando, porque o som parecia uma explosão nos meus ouvidos" (Grandin, 1995, p.67)


ALGUNS SINAIS SUGESTIVOS HIPERREAÇÃO A OUTROS ESTÍMULOS SENSORIAIS:


Estímulo Vestibular

• Fica inseguro quando os pés não tocam o chão. Muito medo de balanço,.

• Apresenta sinais de náusea ou enjôo com movimento, por exemplo, quando anda de carro ou no elevador, nos balanços do parque).

• Não gosta de brincadeiras em que tenha que ficar de cabeça para baixo, evitando atividades, como dar cambalhota.

• Demostra medo excessivo ou insegurança para subir ou descer escadas.

• Evita escalar e pular, se mostrando inseguro quando anda em superfícies irregulares.

• É muito cauteloso para se movimentar, tem muito medo de altura. Evita brincar com os colegas se isolando, por exemplo, na hora do recreio na escola.
Estímulo Proprioceptivo

• Irritável ao manuseio físico. Crianças pequenas podem ficar muito incomodadas com mudanças de posição do corpo, se irritando, por exemplo, com a troca de roupas.

• Não gosta de ginástica e de aulas de educação física.

• É pouco harmonioso ou tenso ao se movimentar.

• Evita atividades de puxar ou pendurar - se em barras .

• Insiste em aceitar apenas determinadas texturas e consistência de alimento.


Estímulo Visual

• Dificuldade de desviar o olhar de um objeto para outro

• Desconforto ou evita luz brilhante e pode continuar incomodado mesmo quando os outros já seadaptaram a ela .

• Gosta de luzes fracas ou óculos de sol .

• Evita contato visual.

• Demonstra desconforto em lugares que tenham muito estímulo visual ( ex: Shopping Center onde há muitos letreiros coloridos ).

• Cansa facilmente ou fica irritado quando realiza atividades visuais complexas, como por exemplo, fazer quebra cabeça.


Estímulo Auditivos

• Fica muito incomodado ou irritado com sons altos ou inesperados, como o estouro de balões, enceradeira , secador de cabelo e fogos de artifício.

• Distrai-se facilmente ou tem dificuldade para concentrar-se com barulho ao redor (Ex: televisão ligada , ventilador, rádio).

• Tampa os ouvidos com as mãos sem motivo aparente

• Chora em lugares cheios e barulhentos.


Crianças hipersensíveis tendem a ser mais agitadas, pois sua atenção é constantemente solicitada por estímulos irrelevantes. É o barulho da geladeira, a etiqueta da blusa que incomoda, o mosquito voando com aquele barulho irritante, o cheiro da merenda do colega, o brinquedo colorido do vizinho, que ele agarra impulsivamente, mas logo solta, já atraído por outros estímulos, indo de ponto a ponto, como que prisioneiro dos estímulos ambientais. Para algumas crianças os estímulos ambientais são tão perturbadores, que elas acabam se isolando, como relatado por Grandin (1992.p.7):


"Eu provavelmente criei um mundo à parte para me proteger dos estímulos com os quais eu não conseguia lidar".


Apesar do comportamento agitado e desorganizado relacionado à hiper-sensibilidade sensorial, ser bastante comum em crianças que apresentam distúrbios invasivos, muitas dessas crianças,ao contrário, são mais passivas, tendendo a se isolar do mundo, como relatado por Grandin e exemplificado no caso de Lucas, a seguir.


O comportamento pouco ativo de Lucas sempre intrigou os pais, mas ele era um bebê tão bonzinho, que ninguém se preocupava com ele. No berço Lucas ficava por longo tempo observando as mãos, quando bebê ele ainda sorria para os pais, mas a medida que foi crescendo foi se tornando mais arredio. As poucas palavras que falava aos 18 meses desapareceram por volta dos 2 anos e Lucas passou a ter comportamentos repetitivos, como bater portas, andar pela casa no escuro, se assustar com qualquer som inesperado, mas, ao mesmo tempo, gostava de fazer sons repetitivos. Natal e aniversário eram festas complicadas, pois era difícil escolher um brinquedo, uma vez que Lucas não mostrava interesse por nada. Todos perguntavam o que dar a ele e a mãe ficava sem saber o que dizer. Aos 4 anos Lucas não gostava de lugares movimentados, não tinha amigos e não atendia aos comandos da professora na escola. Apesar de ser uma criança quieta, Lucas tinha que ser vigiado, pois caia com freqüência, por não prestar atenção em obstáculos, e muitas vezes era pego no alto da escada ou em lugares perigosos, se deslocando sem nenhum cautela, com risco iminente de queda. Uma observação interessante das professoras, é que quando caia Lucas nunca chorava, sendo comum que ele tivesse várias escoriações pelo corpo, mas não esboçava nenhuma reação de dor ou mal estar.
O comportamento de Lucas sugere uma tendência à hipo-sensibilidade ou hipo-reação a estímulos. Esse é o outro extremo dos problemas de modulação, em que a criança parece responder pouco ao ambiente, muitas vezes se isolando, pois tem dificuldade para registrar e se orientar para os estímulos ambientais. Muitas dessas crianças desenvolvem estereotipias e comportamentos repetitivos, como o bater portas, no caso de Lucas, o balanceio rítmico, a mordedura e balanceio das mãos e outros padrões de comportamento, classicamente associados aos quadros típicos de autismo infantil. Apesar de haver várias tentativas de explicação para esses tipos de comportamento, em algumas crianças, eles parecem suprir a necessidade interna de estímulos sensoriais.


ALGUNS SINAIS SUGESTIVOS DE HIPO-REAÇÃO A ESTÍMULOS SENSORIAIS:


Estimulo tátil

• Procura tocar muito e com força em objetos animais e pessoas, chegando a incomodar

• Coloca objetos na boca com freqüência

• Parece sentir menos dor e temperatura

• Parece não notar quando alguém o toca

• Não nota quando suas mãos ou rosto estão sujos


Estímulo Vestibular/Proprioceptivo

• Pode balançar ou rodar por longos períodos de tempo. Demora a ficar tonto.

• Procura constante de movimento(correr, pular), que interfere em sua rotina diária.

• Balança o corpo inconscientemente durante uma atividade(Ex: enquanto assiste televisão).

• Se arrisca excessivamente enquanto brinca. Sobe em lugares perigosos e se movimenta sem nenhuma cautela comprometendo sua segurança pessoal

• Pouca consciência da posição e movimentação do corpo no espaço

• Tromba em móveis, paredes e pessoas

• Postura pobre, parece ter músculos fracos

• Dificuldade em ajustar a força que deve usar ao brincar, praticar esportes ou na relação com as pessoas• Está sempre se apoiando nos móveis e em pessoas


Estímulo Visual

• Tem dificuldade para encontrar um objeto no meio de outros, como por exemplo, achar o brinquedo preferido na caixa de brinquedos)

• Parece não perceber quando alguém entra no ambiente

• Gosta de estimulação visual usando lanterna

• Joga vídeo game ou fica em frente a televisão por horas seguidas


Estímulo Auditivo

• Gosta de sons estranhos

• Faz barulhos por puro prazer de fazê-los

• Parece não escutar o que você diz• Não responde ou demora a responder quando é chamado pelo nome

• Parece indiferente num ambiente movimentado

• Tem dificuldade para ajustar a altura da voz


Além dos problemas de modulação, uma outra disfunção de integração sensorial são as falhas de discriminação, que se caracterizam por dificuldade para interpretar as característica temporais e espaciais dos estímulos sensoriais (Lane, Miller & Hanft, 2000). A capacidade discriminativa é muito importante para o desenvolvimento de habilidades, como por exemplo, reconhecer o formato dos objetos pelo tato, saber a posição do nosso corpo no espaço, que são essenciais para atividades corriqueiras, como encontrar uma chave dentro da bolsa sem precisar olhar, graduar a força que colocamos no lápis para escrever, ou ajustar os movimentos quando andamos em uma superfície irregular.


ALGUNS SINAIS SUGESTIVOS DE POBRE DISCRIMINAÇÃO SENSORIAL:


Estímulo Tátil

• Dificuldade em diferenciar objetos sem o auxilio da visão

• Dificuldade para completar atividades de vida diária sem olhar (Ex: fechos, levar colher à boca)• Necessita sempre estar olhando quando manipula objetos pequenos(Ex: lápis)


Estímulo Proprioceptivo-vestibular

• Dificuldade em manter equilibro, especialmente quando está se movimentando

• Dificuldade em manter postura ereta sentado ou de pé por um período de tempo (Ex: Quando está realizando uma atividade em mesa logo se debruça sobre ela)

• Tende a andar na ponta dos pés

• Não calcula bem a força correta para manipular objetos ou tocar pessoas (Ex; ao escrever ou abraçar alguém)


Estímulo visual

• Dificuldade em perceber a forma e a posição dosobjetos no espaço (Ex: diferenciar d de b)

• Dificuldade para reconhecer e agrupar cores, tamanhos, formas, símbolos)

• Problemas para avaliar profundidade e distâncias


Estímulo Auditivo

• Dificuldade em seguir mais de um comando verbal, apesar de conseguir cumprir cada um separadamente

• Dificuldade em localizar uma fonte sonora (Ex: virar em direção a um apito ou pessoa que chama)

• Não avalia bem a distância e a localização de um som (Ex: um carro que se aproxima)• Na presença de outros barulhos tem dificuldade em focar um som


Um dos problemas importantes relacionados à pobre discriminação de estímulos é a dificuldade para planejar e executar atos motores. Planejamento motor ou praxia é uma habilidade humana que requer esforço consciente e capacidade para conceituar, organizar e dirigir interações significativas com o meio ambiente (Ayres, Mailloux & Wendler, 1987). Isso inclui a capacidadepara ter idéias do que fazer (ideação), para selecionar uma estratégia de ação (planejamento) e a capacidade para executar a ação. Por exemplo, quando uma criança pequena vê um velotrol pela primeira vez, ela é capaz de imaginar como subir ou descer dele sem receber instruções. A dispraxia é a dificuldade para planejar e executar atividades motoras não habituais. Crianças com esse tipo de problema geralmente parecem pouco criativas, brincam de maneira repetitiva, pois tem dificuldade para pensar em nova formas de interagir com os objetos. Elas muitas vezes precisam de modelos, observando outras crianças, para entender o que fazer com determinados objetos ou brinquedos.Existem vários tipos de dispraxia, com causas diversas, mas algumas dificuldades de planejamento parecem relacionadas a disfunções de integração sensorial. Segundo Ayres (1972), pensar sobre uma nova tarefa que requer movimento do corpo, dependente de complexa integração de estímulos sensoriais, especialmente tátil e, às vezes, vestibular, que dão condições para o cérebro desenvolver esquemas e planos motores para movimento. Se a informação sensorial é vaga ou deficiente, o cérebro tem uma base pobre para desenvolver esquemas para movimentação do corpo, o que resulta em menor habilidade de planejamento motor. Quando planejamos novas ações usamos os conhecimentos adquiridos em experiências anteriores e as sensações que o acompanharam essas experiências. Essa parece ser uma área crítica para crianças com distúrbios invasivos, que muitas vezes não sabem o que fazer com brinquedos e engajam em comportamentos repetitivos, como no caso de Lucas, por não ter idéias de como as coisas funcionam. Elas acabam ganhando pouca experiência sobre interações efetivas com o ambiente, o que perpetua suas dificuldades. Como indicado no quadro abaixo, a dispraxia tem componentes motores e cognitivos, que podem ser identificados através da observação da criança.


ALGUNS SINAIS SUGESTIVOS DE DIFICULDADE DE PLANEJAMENTO MOTOR:


Sinais cognitivos

• Dificuldade em decidir o que vai fazer e/ou como vai fazer (Ex: tira vários brinquedos da prateleira, mas não sabe o que fazer com eles apenas espalhandoos)

• Dificuldade em traduzir idéia em linguagem ou em ação

• Dificuldade em descobrir como utilizar um brinquedo ou jogo novo§ Pouca criatividade ou inovação nas brincadeiras. Tende a ser repetitivo

• Dificuldade em dar seqüência a várias etapas de uma atividade necessitando ser ajudado, embora consiga realizar cada etapa separadamente Sinais Motores
• Dificuldade em aprender a executar com precisão atividades motoras novas que requerem movimentos amplos(Ex: pular corda, andar de bicicleta)

• Movimenta-se de maneira desajeitada.

• Dificuldade em aprender a executar atividades novas que requerem movimentos finos das mãos e dedos (Ex: recortar contornos, abotoar, amarrar sapatos)§ Dificuldades oromotoras, tais como, sugar, mastigar, soprar

• Dificuldade na coordenação olho-mão (Ex: fazer jogos de encaixe, colorir dentro de limites, escrever)


MAS COMO LIDAR COM OS PROBLEMAS SENSÓRIO-MOTORES OBSERVADOS?


Uma das formas de melhorar a situação da criança é reconhecer que o problema existe e interfere de forma importante no desempenho funcional e na interação da criança com o meio. Usando os quadros de sinais apresentados anteriormente podemos identificar alguns comportamentos sugestivos de problemas de modulação e discriminação nos vários sistemas sensoriais. Entender esses problemas nos dá uma nova forma de ver a criança, que de birrenta ou agressiva, passa a ser vista como a mercê das falhas de processamento sensorial, que resultam no comportamento observado. Essa nova forma de entender o comportamento da criança ajuda os pais e professores a criar novas formas de interação, que vão propiciar situações mais positivas, iniciando um novo ciclo de relacionamento interpessoal. Baseados na teoria de integração sensorial, os pais podem criar brincadeiras e estruturar as rotinas diárias da criança, de forma a facilitar a organização do comportamento e um padrão mais previsível de resposta aos estímulos ambientais. Na maioria dos casos a criança pode se beneficiar do tratamento individualizado com Terapeuta Ocupacional especializado na terapia de integração sensorial.


A TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL


Este tipo de terapia envolve atividades que fornecem basicamente estimulação tátil, proprioceptiva e vestibular, dentro de um contexto de brincadeiras que vão se tornando gradualmente mais complexas para promover respostas cada vez mais maduras e organizadas,resultando em novas aprendizagens e comportamentos. O ambiente terapêutico é rico em equipamentos, materiais e brinquedos interessantes, como por exemplo: bolas e rolos de tamanhos, cor e texturas variados, balanços de formas diferentes, rampa para escorregar, cama elástica, almofadões e outros. O terapeuta organiza o ambiente de forma a oferecer desafios deacordo com o nível de desenvolvimento da criança.


Além da intervenção direta, a terapia inclui orientação a pais e professores. A consultoria, na qual se procura dar uma nova visão sobre os problemas da criança, é um tipo de intervenção usada principalmente nos casos de distúrbios de modulação, os quais muitas vezes são um problema maior para as pessoas que lidam com a criança do que para ela própria. Quando a abordagem de integração sensorial é bem sucedida a criança responde mais efetivamente as informações sensoriais e os pais relatam que ela está mais organizada, sendo mais fácil a convivência.Apesar da terapia de integração sensorial ser voltada para brincadeiras e atividades divertidas, envolvendo estimulação sensorial, vários estudos indicam que além de melhor habilidade lúdica, as crianças tratadas também apresentam melhorias significativas nas áreas de auto-cuidado, controle motor, atenção, linguagem, habilidade social, além de redução nos comportamento estereotipados (Schneck, 2001). Uma informação interessante dos estudos sobre eficácia das abordagens sensoriais com crianças que apresentam distúrbios invasivos, é que a terapia de integração sensorial parece ser mais efetiva em crianças que apresentam sinais de hipersensibilidade (Ayres & Tickle, 1980; Linderman & Stewart, 1999). Ou seja, crianças que apresentam sinais de problemas de modulação parecem obter mais ganhos com esse tipo de intervenção.Ressaltamos, mais uma vez, que a terapia por si só tem efeito limitado, pois muitas crianças necessitam de um acompanhamento mais amplo, que inclua o treino funcional, além do esforço combinado da família e equipe interdisciplinar. A família e a escola tem um papel essencial no tratamento, pois estão em contato constante com a criança e podem contribuir de maneiraefetiva, estruturando o ambiente para melhorar o comportamento ou então fazendo algumas brincadeiras e atividades para estimular o desenvolvimento da criança.


ATIVIDADES E BRINCADEIRAS SENSORIAIS


Apresentamos a seguir algumas idéias de atividades, que podem ser feitas em casa ou na escola.Antes de apresentarmos essas sugestões algumas considerações são necessárias. Em primeiro lugar precisamos saber que Integração Sensorial não é o mesmo que estimulação sensorial e que algumas vezes pode ser necessário reduzir a quantidade ou certos tipos de estímulos. É importante reconhecer que cada criança é única em seus interesses, necessidades e respostas.Devemos observar suas reações a diferentes estímulos, como por exemplo, ao toque, ao movimento, à altura,aos sons e luzes, e estar prontos para alterar as atividades e fazer modificações no ambiente sempre que necessário. As respostas podem variar não só de criançapara criança, como também podem ser diferentes em um mesmo dia ou ainda de um dia para outro. A criança nos dará pistas sobre o que seu sistema nervoso precisa, procurando certas experiências sensoriais ou evitando e se desorganizando diante daquelas com as quais não sabe lidar.Os pais não precisam nem devem se tornar terapeutas de seus filhos, mas podem fazer algumas adaptações no ambiente e na forma como lidam com a criança, procurando sobretudo preservar uma boa relação entre pais e filhos. Manter a criança informada sobre o que vão fazer, antecipando situações de estresse, pode ser uma boa estratégia para ajudá-la a se sentir menos ameaçada e evitar comportamentos inesperados. Rotinas diárias bem estruturadas, sem rigidez excessiva, permitindo que a criança antecipe os eventos, também ajudarão a criança a se organizar. Mudanças na rotina devem ser comunicadas.


Apresentamos a seguir algumas idéias de atividades que podem ser realizadas em casa ou escola, mas é preciso se ter um cuidado especial com a segurança, preservando sempre a integridade física e respeitando o desejo da criança.


SUGESTÕES DE ATIVIDADES PRINCIPALMENTE PARA MODULAÇÃO TÁTIL :


• Evite tocar a criança por trás e de forma inesperada. Crianças mais sensíveis apreciarão um toque mais firme

• Na hora do banho incentive o uso de buchas. Na hora de secar use toalhas macias e se a criança for muito sensível vá apertando a toalha em seu corpo ao invés de esfregá-la

• Pintura do corpo: Usar materiais como talco, creme, amido, álcool (o adulto manipula ), creme de barbear, buchas, pincéis, rolinhos de pintura, luvas de tecidos texturados. Incentivar a criança a passar em seu próprio corpo ou no do outro. Não forçar, respeitar onde ela deseja receber o estímulo.

• Manipulação de texturas - Num recipiente plástico (bacia) colocar água , areia, farinha, creme, pedrinhas, cereais. A criança poderá experimentar estes materiais separados ou misturados. Misturar com as mãos, encher canecas, esconder objetos no meio, enterrar as mãos ou os pés e etc.

• Caixa ou piscinas de texturas - Caixas contendo grãos, flocos de isopor, pedaços grandes de espuma. A criança poderá entrar dentro da caixa para achar algum objeto escondido lá , ou se não suportar pode inicialmente, procurar o objeto com as mãos ou ospés .

• Trilha: Montar uma trilha, com superfícies de texturas variadas como papelão, tapete de retalhos, colchonete e carpete,almofadões, para que a criança se desloque sobre ela, rolando, engatinhando, ou numa brincadeira corporal com outra pessoa (ex: luta, trenzinho, natação no seco).

• Sanduíche: Usar colchonetes, almofadões ou cobertores para enrolar a criança, tipo rocambole, ou então amontoá-los sobre ela. Podemos cantar enquanto damos pequenos apertos sobre o corpo da criança. Podemos também enrolar a criança no colchonete e deixar que ela ande pela sala ou role pelo chão com ele.

• Abraço de Tamanduá - Abraço bem firme, apertado, incentivando a criança a fazer o mesmo. Abraçar e soltar pois a criança poderá ficar aflita se for muito demorado. Repetir várias vezes durante o dia .

• Amassa pão: Criança deitada sobre um tapete ou colchonete, rolar uma bola fazendo pressão sobre seu corpo. Chamar atenção para as partes do corpo. Observamos que atividades que envolvem o toque mais firme, como nas três ultimas sugestões, são geralmente muito apreciadas por crianças hipersensíveis.


SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA ESTIMULAÇÃO PROPRIOCEPTIVA / VESTIBULAR:


• Usar balanços de tamanhos e formas variados, como rede, gangorra, trapézio, balanço infantil de cadeirinha. Colocar o balanço baixo, para a criança impulsionar sozinha. Um balanço bastante divertido e de baixo custo é pendurar uma câmara de ar de caminhão. Observar sempre se há proteção, com colchonetes, no caso de quedas.

• Rampa ou escorregador baixo, para descer em posições variadas (Ex: deitada de barriga para baixo ou para cima, sentada de frente ou de costas) e para escalar. Pode subir engatinhando ou se puxando por uma corda estando deitada de barriga para baixo.

• Carrinho de rolimã para usar sentado ou deitado de barriga para baixo. Fazer trilhas para percorrer. Descer em pequenas rampas.

• Tapete voador: Puxar a criança sentada ou deitada sobre uma colcha ou tapete. Variar direção e velocidade.

• Freqüentar parquinhos, incentivando, sem forçar, o uso do escorregador e de balanços.

• Bolas grandes próprias para ginástica podem ser usadas para várias brincadeiras. A criança sentada sobre a bola pode brincar de "pula-pula", balançar para trás e frente e para as laterais. Deitada de barriga para baixo a criança pode balançar para trás e para frente e, se gostar, pode até virar uma cambalhota.
Os balanços devem estar pendurados numa altura que permita a criança tocar o chão com os pés sempre que desejar. As crianças mais inseguras podem se sentir inicialmente melhor balançando no colo de um adulto. Procure sempre enriquecer as atividades nos balanços com outros objetivos (Ex: cantar, acertar alvos com os pés ou com as mãos, jogar bola num cesto ou com aoutra pessoa), isto é muito importante, principalmente para aquelas crianças que tendem a querer usá-los por muito tempo e de forma pouco criativa. Brincadeiras de puxar e empurrar estimulam os proprioceptores e podem ser combinadas com as atividades vestibulares acima citadas.


SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA ESTIMULAÇÃO VISUAL:


• Chame a atenção da criança para acontecimentos no ambiente como, a fogueira, o nascer e o pôr do sol.
• Ligar e desligar a luz. Adaptar uma chave no interruptor para regular a luminosidade.

• Providencie uma variedade de opções de iluminação como, lâmpadas de mesa, lâmpadas coloridas, piscapisca.

• Brincadeiras com lanternas, fazendo sombras ou movimentos na parede, iluminando objetos.

• Clarear a superfície de gavetas para facilitar que objetos sejam encontrados e da mesa onde a criança for realizar atividades.

• Providencie livros com figuras amplas.

• Usar preferencialmente papel branco e lápis preto para dar o máximo de contraste nos desenhos.

• Lápis fluorescentes podem ser usados sobre papel preto.

• Prancha inclinada sobre a mesa onde será fixado o papel poderá facilitar a escrita melhorando o campo de visão.

• Aquários com peixes coloridos.


SUGESTÕES DE ATIVIDADES PARA ESTIMULAÇÃO AUDITIVA:


• Ensinar canções

• Ensinar rítmos

• Ouvir estilos musicais diferentes

• Variar o rítmo de uma mesma música

• Grave sons da natureza.


Finalmente, um aspecto importante a se considerarem qualquer programa para crianças que apresentam distúrbios invasivos do desenvolvimento é que na maioria da vezes temos boas idéias para brincadeiras e atividades, o problema, no entanto, é como levar a criança a participar. As sugestões de Greenspan e Weider (1998) sobre como iniciar e manter interações com crianças com distúrbios do desenvolvimento, apresentada no quadro abaixo, nos parecem bastante úteis para pais e cuidadores.


SUGESTÃO DE ESTRATÉGIAS PARA INICIAR E MANTER A INTERAÇÃO COM CRIANÇAS


• Acompanhe a criança e siga sua liderança. Observe seu comportamento e dê sentido ao que ela faz,agindo como se tudo fosse intencional. Por exemplo, se ela cai sobre o sofá, inicie uma guerra de almofadas, se ela deixa algo cair e faz um barulho diferente, repita, como se fosse intencional.

• Se posicione na frente da criança e ajude-a a fazer o que ela quer.

• Dê suporte às iniciativas da criança e expanda o conteúdo inicial, se faça de bobo, faça coisas erradas ou engraçadas e observe a reação. Se interponha no caminho da criança, interferindo de maneira divertida com o que ela está fazendo.

• Descubra o que atrai a atenção e causa prazer na criança. Use brincadeiras sensoriais (ex: balançar, pular, rodar e luta), jogos de causa e efeito, que aparecem e desaparecem, ou brincadeiras infantis, como o esconde -esconde e o "vou te pegar".

• Enfatize palavras e gestos, exagere a expressão facial e entonação, deixando claro seus sentimentos e intenções.

• Faça o que for possível para manter a interação e não interrompa a atividade enquanto conseguir manter a interação.

• De sentido aos sons que a criança emite, completando palavras, ampliando o conteúdo ou dando um contexto para a palavra emitida, coloque palavras ou dê nome aos sentimentos que ela conseguir expressar.

• Insista sempre em uma resposta, que seja um gesto, um som, um olhar.• Não desista da criança, seja persistente, paciente e espere pela resposta.


Foi apresentada uma visão prática dos problemas de processamento sensorial observados em crianças portadoras de distúrbios invasivos do desenvolvimento. São necessárias muitas pesquisas nessa área, mas esperamos que as descrições de sinais e sugestões de atividades ajudem pais e profissionais a compreender melhor alguns comportamentos dessas crianças, usando essa perspectiva para inspirar novas formas de interação e intervenção com essas crianças.


(Por: Márcia Cristina Franco Lambertucci / Lívia de Castro Magalhães)
(Retirado de: Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, 3º Milênio - Walter Camargos Jr e Colaboradores, 2005)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

DEZ COISAS QUE TODO ALUNO COM AUTISMO GOSTARIA QUE A PROFESSORA SOUBESSE

Comportamento é comunicação .Todo comportamento acontece por uma razão. Ele conta para você, mesmo quando as minhas palavras não podem faze-lo, como eu percebo o que está acontecendo ao meu redor. Comportamento negativo interfere no meu processo de aprendizagem. Entretanto, simplesmente interromper esses comportamentos não é suficiente; ensine-me a trocá-los por alternativas adequadas de modo que a aprendizagem real possa fluir. Comece por acreditar nisto: eu verdadeiramente quero aprender a interagir de forma apropriada. Nenhuma criança quer receber uma bronca por comportamento negativo. Esse comportamento geralmente quer dizer que eu estou atrapalhado com sistemas sensoriais desorganizados, não posso comunicar meus desejos ou necessidades ou não entendo o que se espera de mim. Olhe além do meu comportamento para encontrar a fonte da minha resistência. Anote o que aconteceu antes do comportamento: as pessoas envolvidas, hora do dia, ambiente. Um padrão emerge depois de um período de tempo.

Nunca presuma nada. Sem apoio de fatos uma suposição é apenas uma suposição. Posso não saber ou não entender as regras. Posso ter ouvido as instruções mas não ter entendido. Talvez eu soubesse ontem mas não consigo me lembrar hoje. Pergunte a si mesmo:Você tem certeza que eu realmente sei como fazer o que você está me pedindo? Se de repente eu preciso correr para o banheiro cada vez que preciso fazer uma folha de matemática, talvez eu não saiba como fazer ou tema que meu esforço não seja o suficiente. Fique comigo durante repetições suficientes da tarefa até que eu me sinta competente. Eu posso precisar de mais prática para dominar as tarefas que outras crianças.Você tem certeza que eu realmente conheço as regras? Eu entendo a razão para a regra (segurança, economia, saúde)? Estou quebrando a regra porque há uma causa? Talvez eu tenha pego um pedaço do meu lanche antes da hora porque eu estava preocupado em terminar meu projeto de ciências, não tomei o café da manhã e agora estou morto de fome.

Procure primeiro por problemas sensoriais. Muitos de meus comportamentos de resistência vêm de desconforto sensorial. Um exemplo é luz fluorescente, que foi demonstrado muitas vezes ser um problema para crianças como eu. O som que ela produz é muito perturbador para minha audição supersensível e o piscar da luz pode distorcer minha percepção visual, fazendo com os objetos pareçam estar se movimentando. Uma luz incandescente ou as novas luzes econômicas na minha carteira vai reduzir o piscar Ou talvez eu precise sentar mais perto de você; não entendo o que você está dizendo porque há muitos sons “entre nós” – o cortador de grama lá fora, a Maria conversando com a Lurdes, cadeiras arrastadas, o som do apontador. Peça à terapeuta ocupacional da escola para dar algumas idéias sensoriais que sejam boas para todas as crianças, não só para mim.


Dê um intervalo para auto regulação antes que eu precise dele Um canto quieto com carpete, algumas almofadas livros e fones de ouvido me dão um lugar para me afastar quando preciso me reorganizar sem ser distante demais que eu não possa voltar para o fluxo de atividades da classe de forma tranqüila.

Diga o que você quer que eu faça de forma positiva ao invés de imperativa. “Você deixou uma bagunça na pia!” é apenas a afirmação de um fato para mim. Não sou capaz de concluir que o que você realmente quer dizer é:“ por favor lave a sua caneca de tinta e ponha as toalhas de papel no lixo”. Não me faça adivinhar ou ter de descobrir o que eu devo fazer.

Tenha uma expectativa razoável. Uma reunião de todas as crianças no ginásio de esportes e alguém falando sobre a venda de balas é desconfortável e sem significado para mim. Talvez fosse melhor eu ir ajudar a secretária a grampear o jornalzinho.

Ajude-me a fazer a transição entre atividades. Leva um pouco mais de tempo para eu fazer o planejamento motor de ir de uma atividade para outra. Dê-me um aviso de que faltam cinco minutos, depois dois, antes de mudar de atividade – e inclua alguns minutos extra no final para compensar. Um relógio, com o mostrador simples ou um “timer” na minha carteira pode me dar uma dica visual sobre o tempo para a próxima mudança e me ajudar a lidar com o tempo mais independentemente.


Não torne pior uma situação ruim. Sei que embora você seja um adulto maduro às vezes você pode tomar decisões ruins no calor do momento. Eu realmente não tenho a intenção de ter uma crise, mostrar raiva ou atrapalhar a classe de qualquer outra forma. Você pode me ajudar a encerrar mais rapidamente não respondendo com um comportamento inflamatório. Conscientize-se de que estes comportamentos prolongam ao invés de resolver a crise:
Aumentar o volume ou tom de voz. Eu escuto os gritos mas não as palavras.
Imitar ou caçoar de mim. Sarcasmo, insultos ou apelidos não me deixam sem graça e não mudam meu comportamento.
Fazer acusações sem provas.
Adotar uma medida diferente da dos outros.
Comparar com um irmão ou outro aluno
Lembrar episódios prévios ou não relacionados
Colocar-me em uma categoria (“crianças como você são todas iguais)”.

Critique gentilmente seja honesta – você gosta de aceitar crítica construtiva? A maturidade e auto confiança de ser capaz de fazer isso pode estar muito distante das minhas habilidades atuais. Você não deveria me corrigir nunca? Lógico que sim. Mas faça-o gentilmente, de modo que eu realmente consiga ouvir você.
Por favor! Nunca, nunca imponha correções ou disciplina quando estou bravo, frustrado, super- estimulado, ansioso, “ausente” ou de qualquer outra forma que me incapacite a interagir com você.
Lembre-se que vou reagir mais à qualidade de sua voz do que às palavras. Vou ouvir a gritaria e o aborrecimento, mas não vou entender as palavras e consequentemente não conseguirei descobrir o que fiz de errado. Fale em tom baixo e abaixe-se para falar comigo, de modo que esteja falando comigo no mesmo nível.

Ajude-me a entender o comportamento inadequado de forma que me apóie, me ajude a resolver o problema ao invés de punir ou me dar uma bronca. Ajude-me a descobrir os sentimentos que despertaram o comportamento. Posso dizer que estava bravo mas talvez estivesse com medo, frustrado, triste ou com ciúmes. Tente descobrir mais que a minha primeira resposta.
Ajuda quando você está modelando comportamento adequado para responder à crítica.
Ofereça escolhas reais - e apenas escolhas reais. Não me ofereça uma escolha ou pergunte “você quer...?” a menos que esteja disposto a aceitar não como resposta. “Não” pode ser minha resposta honesta para “Você quer ler em voz alta agora?” ou “ você quer usar a tinta junto com o Pedro?” É difícil confiar em alguém quando as escolhas não são realmente escolhas.

Você aceita com naturalidade o número enorme de escolhas que faz diariamente. Constantemente escolhe uma opção sobre outras sabendo que ter escolhas e ser capaz de escolher lhe dão controle sobre sua vida e futuro. Para mim, escolhas são muito mais limitadas, e é por isso que pode ser difícil ter confiança em mim mesmo. Dar-me escolhas freqüentes me ajuda a me envolver mais ativamente na minha vida diária.
Sempre que possível, ofereça uma escolha dentro do que tenho de fazer. Ao invés de dizer: “escreva seu nome e data no alto da página” diga: você gostaria de escrever primeiro o nome ou a data? Ou “qual você gostaria de escrever primeiro: letras ou números?”. A seguir diga: “você vê como o Paulo está escrevendo o nome no papel?”
Dar escolhas me ajuda a aprender comportamento adequado, mas também preciso entender que há horas em que você não pode escolher. Quando isso acontecer, não ficarei tão frustrado se eu entender o porque:
▫ ”não posso deixar você escolher nesta situação porque é
perigoso. Você pode se machucar.
▫ não posso dar essa escolha porque atrapalharia o Sérgio
(teria um efeito negativo sobre outra criança).
▫ eu lhe dou muitas escolhas mas desta vez tem de ser a
escolha do adulto.

A última palavra: acredite. Henry Ford disse: “quer você acredite que pode ou que não pode, geralmente você está certo”. Acredite que você pode fazer uma diferença para mim. É preciso acomodação e adaptação mas autismo é um distúrbio não pré fixado. Não há limites superiores inerentes para aquisições. Posso sentir muito mais que posso comunicar e a coisa que mais posso perceber é se você acredita ou não que “eu posso”. Espere mais e você receberá mais. Incentive-me a ser tudo que posso ser, de modo que possa seguir o caminho muito depois de já ter saído de sua classe.

Traduzido de Ellen Notbohm por Heloiza Goodrich, TO

Símbolo para a Conscientização do Autismo



Símbolo para a Conscientização do Autismo.

Este quebra-cabeça representa o mistério e complexidade do autismo.

As diferentes cores e formas representam a diversidade das pessoas e das famílias convivendo com a desordem.

O brilho do símbolo é o sinal da ESPERANÇA através de novas pesquisas e conhecimento para pessoas como eu e você!


Retirado do site: http://autismoemfoco.googlepages.com/


terça-feira, 17 de novembro de 2009

Qual seria o tempo necessario da terapia?

Uma das questões mais polêmicas abordada – principalmente pelos pais - no último workshop realizado por mim no Brasil foi: “Qual o tempo mínimo de cada sessão da terapia floortime?” Penso que o mínimo para o desenvolvimento de um trabalho de qualidade deveria ser de uma hora. Não desconsidero a importância do tempo da sessão, porém, é necessário que ele não seja utilizado como camisa de força para definir a duração e a condução do processo. É fundamental que a definição do tempo desse encontro leve em consideração o estado emocional e regulatório da criança. O fundamental é que haja um clima relaxado (característico do floortime). Sem essa atmosfera, uma criança portadora de autismo, por exemplo, suportaria uma hora. Assim sendo, o tempo deve ser resultado do fluxo de interação que ocorre entre o terapeuta e o paciente.

O tempo determinado pelo criador da Terapia Flooortime (terapia do chão), Dr. Greesnpan, é de 1h30. Ele acredita que é necessário um tempo para envolvimento, acomodação e regulação do paciente, e um tempo maior para que o terapeuta possa compreender os sinais pelo mesmo.

A diferença relativa ao tempo de sessão entre a Terapia Floortime e as outras intervenções dá-se no campo da integração sensorial. Se o objetivo de um profissional de fonoaudiologia for a construção de um vocabulário, por exemplo, esse objetivo apenas será atingido se o paciente estiver regulado. Para isso, o profissional deve ter um tempo de leitura do estado emocional e regulatório desse paciente antes de começar a trabalhar para atingir as metas da linguagem.

Como na Terapia Floortime a participação familiar é fundamental, ela deve ter seu espaço de acomodação garantido. Como o número de pessoas no mesmo ambiente pode ser grande, faz-se necessário um clima de relaxamento e de interação entre todos. O que só acontecerá se a questão do tempo estiver bem resolvida e não sirva como um elemento tensionador.

Idéias de como brincar: é importante que a criança lidere a brincadeira.


Os pais devem facilitar as descobertas e expandi-las com os brinquedos. Eu sei que é difícil, principalmente quando nossas crianças têm ideias repetitivas e isoladas, mas a intenção é dar a essas crianças o poder da iniciação e do controle. É sempre bom lembrar que a temática não é tão importante, e sim o processo que ela irá desenvolver.

A relação entre a criança e o adulto deve ser pautada pela reciprocidade e envolver vários círculos de comunicação e conexão de idéias, que são essenciais para ajudar no desenvolvimento emocional e, futuramente, construir o cognitivo.

O importante não é construir o conhecimento e sim estabilizar uma relação interpessoal entre os pais e a criança. Para isso, é necessário que exista um clima de relaxamento e poesia no ambiente. Os brinquedos possibilitam a entrada nessa atmosfera, facilitando a aproximação com a criança.

Seguindo a liderança da criança, os pais estão validando a capacidade natural e individual dela, pois quando a criança lidera, ela está no poder validando o que melhor sabe fazer, e isso aumentará sua capacidade de lidar com suas necessidades.

Como terapeuta, procuro respeitar todos os movimentos estabelecidos pela criança e, a partir daí, criar um plano para conhecer as necessidades dela, fazê-la não apenas reconhecer essas necessidades, mas compreendê-las como metas a serem atingidas. Se a meta de um paciente é aumentar a sua capacidade de relacionar-se com as pessoas através dos olhos, procuro criar um ambiente no qual os brinquedos estejam localizados em um ângulo em que ele necessite relacionar-se com os mesmos para tê-los, entretanto, essa atuação deverá ser realizada de maneira harmônica e relaxada. Um exemplo de como essa prática pode ser executada em uma brincadeira com uma criança pode aqui ser demonstrada: eleva-se um trem junto ao olho e pergunta-se a criança, “Quer ir passear?". Como a criança autista se relaciona muito mais com o personagem do que com o adulto, não deverá haver imposição de um tempo mínimo para que a relação com o interlocutor seja estabelecida, ou seja, a relação interpessoal deve ser viabilizada sem cobrança de tempo preestabelecido.

É muito importante seguir a liderança da criança e não se preocupar com a repetição ou com questões acadêmicas, esses conhecimentos vão surgir à medida que a criança aprenda a conviver com suas necessidades e se sinta confortável com seu espaço sensorial.

Por Patrícia Piacentini

Thomas Trem !

Eu e outra terapeuta regemos um grupo maravilhoso aos Sábados. Nossa ideia é criar um ambiente de ajuda mútua entre os pais, como, por exemplo, a de troca de informações entre eles a respeito de um universo que fazem parte: o autismo. Muitos dos pais com os quais trabalhamos são mexicanos que migraram para os Estados Unidos sonhando com uma vida mais digna. O sonho seria fazer algum dinheiro e retornar para casa. Mas o desejo ganha outra direção quando se dão conta que um dos filhos tem autismo. Essa realidade demora a ser decodificada pelos, primeiro, pela dificuldade de lidar com essa nova realidade, depois, por se darem conta de que há uma gama de diferentes comportamentos e necessidades por parte dos portadores do autismo. Tomados pelo primeiro impacto e contato com as novas circunstâncias esses pais se dão conta que o sonho da volta terá de ser revisto e melhor avaliado. Como atender as necessidades de um filho autista no México? Eis a questão mais frenquentemente mencionada nas consultas.

A ideia de criação do grupo veio para a socialização das inquietações que acometem esses pais e tentar sossegá-los. O que, de alguma maneira - e com sucesso – está ocorrendo entre a comunidade latina aqui em Santa Barbara, Califórnia. É muito gratificante ver como os pais crescem em conjunto, dividindo suas duvidas, angústias, êxitos e procurando compreender o autismo para, a partir desse conhecimento, se relacionar melhor com seus filhos.


Em nossos encontros, aos sábados, usamos a seguinte metodologia: escolhemos um tema que está diretamente relacionado aos interesses das crianças – e com o qual elas se sentem completamente confortáveis para interagir com os outros participantes. É importante frisar que essa interação acontece num ambiente bastante acolhedor.


Relatarei agora a experiência de um grupo que já se percebe enquanto corpo e mente. São quatro crianças com no máximo cinco anos e que possuem acomodações semelhantes. Elas estão dentro do processo terapêutico desde os três anos de idade.


Nessa sessão, realizada com o propósito de celebrar o aniversário de Thomas Trem, colocamos um anúncio na porta avisando da festa. Quando as crianças chegaram, encontraram um cartaz no corredor, com uma frase escrita em letras grandes, comentando a respeito do aniversario. A sala foi decorada de modo a propiciar o trabalho em conjunto com o objetivo de facilitar a montagem dos trilhos. No desenrolar da sessão, foi muito interessante observar os pais construindo em conjunto com os filhos todo o cenário. Vale ressaltar que muitas dessas crianças sofrem de ansiedade e que o processo de encaixe dos trilhos acomoda a emoção. Lembro, também, que qualquer situação que remeta a emoção é tudo que uma criança autista tenta evitar. Toda a sessão foi exitosa. Não houve qualquer problema de transição, cada participante se acomodou num personagem sem qualquer resistencia. Para nós terapeutas as metas foram alcançadas: interação, socialização, integração sensorial e trabalho em família. O objetivo central dessa sessão foi mostrar aos pais que se faz necessário um plano de ação para obter as metas e que esse plano pode vir acompanhado de muita alegria e satisfação.
Por: Patrícia Piacentini

Integração Sensorial



Todo ser humano tem uma maneira singular de processar e responder a diferentes estímulos. Juntos, nossos sentidos trabalham para nos fornecer informações sobre como estamos situados em um determinado ambiente. Sabemos que a visão, a audição, o paladar, o olfato e o tato são os cinco sentidos mais familiares ao nosso corpo, porém, existem dois sentidos internos adicionais que também nos ajudam processar as informações que vêm a nosso encontro.

Vestibular - é o sentido que passa a informação para os nossos ouvidos e que está relacionado ao movimento e ao equilíbrio. E a Propriocepção - que é a informação que recebemos dos nossos músculos e articulações, como, por exemplo, a posição que o nosso corpo está ocupando em certo espaço. Uma vez que o cérebro registra a informação sensorial do nosso corpo e processa essa informação, ele a interpreta e a organiza de maneira a executar os devidos comandos que irão responder as informações recebidas. Para muitos (pesquisadores), a integração dos sentidos ocorre sem que a percebamos. Para outros, a integração sensorial acontece de maneira diferenciada, o que pode ser a origem de vários problemas de funcionamento, chamada de "Sensory Processing Disorder" (em português seria “confusão/perturbação ou doença do processamento sensorial).

Sensory Processing disorder (SPD) - descoberta pela primeira vez, nos anos 50, pelo Dr. Jean Ayres, terapeuta ocupacional - atinge o sistema nervoso, que provoca dificuldades de compreensão, organização e integração. Talvez essa perturbação ocorra individualmente ou em conjunto com outras, como a dificuldade de atenção, autismo, paralisia cerebral, síndrome de Down, entre outras.

Essa perturbação sensorial varia de pessoa para pessoa e, associada ao stress e desconforto corporal, pode afetar a habilidade da criança e provocar um déficit de atenção na mesma. O que irá afetar profundamente a comunicação, a sociabilidade, o aprendizado, o comportamento e o senso de regularidade da criança.

Os três tipos mais importantes de processamento sensorial: alta, média e baixa sensibilidade. Refiro-me aos sentidos individuais equilibrando suas reações para que sejam reguladas em quaisquer situações. Por exemplo, crianças que passam por experiências de alta sensibilidade, tendem a sentir sensações muito intensas. Como conseqüência, elas reagem sempre como se a maioria das situações fossem perigosas e, às vezes, dolorosas. Nesse sentido, na maioria das vezes, tendem a fugir de situações semelhantes. Como conseqüência, talvez se esquivem quando alguém tentar tocá-las, chegando mesmo a não suportar o contato com as etiquetas das roupas e tornam-se muito agitadas se suas mãos são expostas a texturas de determinados produtos como areia, barro ou lama, por exemplo. Tendo como provável reação gritos durante a lavagem dos cabelos e apresentam verdadeiro ódio de penteá-los. São bem seletivas com alimentação, super sensíveis a cheiros e frequentemente tapam seus ouvidos para não escutarem o barulho de aparelhos como o liquidificador e o aspirador de pó. Fixam a atenção em sons repetitivos como o tic-tac do relógio e se sentem demasiadamente estimuladas em ambientes repletos de objetos. Cobrem os olhos quando são expostas a claridade, rejeitam certos movimentos e brinquedos como o balanço ou o escorrego. As crianças que possuem experiências de baixa sensibilidade têm dificuldades de registrar as informações sensoriais e necessitam de vários estímulos para que possam respondê-las. Na maioria dos casos, elas têm tolerância maior a dor; tendem a andar sem sapatos; constantemente tocam objetos e pessoas; quase sempre estão batendo ou tropeçando em algo; mastigam objetos como lápis; sentem dificuldade em seguir certas direções; falam muito alto; cheiram objetos; perseguem movimentos rápidos e rotativos sem ficarem tontas; adoram balanços, subir em árvores, ou seja, diversões que oferecem algum risco e que se movem constantemente.
Já crianças que experienciam a média sensibilidade, talvez possuam alta sensibilidade para certos tipos de estímulos sensoriais e baixa sensibilidade a outros.

O importante é dar a devida importância à questão sensorial e que esta possa ser identificada antes de qualquer intervenção psicológica. Se for identificado qualquer transtorno no processamento sensorial de alguma criança, o procedimento mais adequado deverá ser conduzi-la a uma terapeuta de integração sensorial, que poderá descrever uma dieta e uma sequência de exercícios que estimulará o sistema nervoso e ajudar o cérebro a processar as informações sensoriais necessárias para o seu desenvolvimento.


Por Patrícia Piacentini

Floortime



Por que eu uso o modelo DIR?

Um grande aspecto do modelo D.I.R. é a compreensão. O modelo DIR/Floortime é baseado em um novo modelo de desenvolvimento da mente que tem ajudado crianças portadoras de necessidades especiais e seus familiares a construir uma estrutura social, emocional e intelectual mais saudável, capacitando-os a melhorar a relação entre eles, tornando-os capazes a não focalizarem em comportamentos isolados. Esse desenvolvimento envolve muitos elementos e um grande time de profissionais.
A sigla DIR significa Desenvolvimento Diferencial Individual e Relacional. Esse modelo está embasado em um tipo de intervenção interdisciplinar que focaliza no estado emocional da criança e considera o seu sentimento, a relação com os pais, os níveis de desenvolvimento e as diferenças individuais, responsáveis pelas diferentes respostas aos estímulos sensoriais.
Essa intervenção foi criada pelos Drs. Stanley Greenspan e Serena Wielder com a intenção de envolver cada criança portadora de necessidades especiais, compreendendo os diferentes níveis de desenvolvimento e valorizando as melhores capacidades. A intervenção proclama seguir a liderança da criança e respeitar as diferenças sensoriais, cognitivas e motoras.

A terapia DIR / Floortime acredita que:

· Interrelacão e afetividade são condições necessárias para garantir a aprendizagem;

· Toda criança é única e deve ser tratada individualmente;

· Toda criança tem possibilidade de avanços;

· A família é a base do tratamento.

A ideia central da terapia Floortime é que os pais devem compreender como a criança está se desenvolvendo emocionalmente e cognitivamente, levando em considerações uma questão fundamental: como a criança inicia a comunicação com pessoas que estão ao seu redor?
De acordo com Academia Internacional de Ciências não existe um único estudo que valide qualquer intervenção especifica, mas há evidências de intervenções que funcionam, como o DIR/Floortime e outras intervenções baseadas nesse método.
Por: Patrícia Piacentini

Comentários e Sugestões

A idéia desse blog, é ajudar os pais e os profissionais de inclusao na jornada de entendimento do Autismo. Deixe aqui, seus comentários e sugestões para próximas postagens.

Quem está brincando, você ou a criança?

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