sábado, 30 de maio de 2020

Quem está brincando, você ou a criança?

Quem está brincando, você ou a criança?
Os interesses da criança são a chave e é assim que tudo se inicia no Floortime, componente do modelo DIR. Nele nos tornamos detetives, investigando qual a porta que a criança abre (espontaneamente) para que nós terapeutas possamos atuar e, junto com a família, expandir os níveis de desenvolvimento. Acreditamos que isto proporcionará à criança uma autonomia emocional, necessária para a resolução de problemas. Às vezes essas portas se abrem nas brincadeiras motoras, outras vezes nas brincadeiras sensoriais, outras nos scrips… o importante é estarmos sempre ali, mediando esse desenvolvimento e validando a iniciação.
Se faz necessário compreender que no desenvolvimento infantil etapas como: relacionamento, engajamento, comunicação, alteração de comportamentos através da compreensão, crescimento emocional, desenvolvimento intelectual e diferenças individuais, são peças fundamentais que qualquer terapeuta precisa validar para mediar a relação da criança com o mundo.
Nós DIR, validamos a criança, suas diferenças individuais, seu estado emocional e suas relações. Assim como Vigotski, que destaca que o homem se constitui como ser humano a partir das interações que estabelece com os outros, acreditamos que o crescimento intelectual e emocional acontece dentro do contexto dos relacionamentos. Por este fator, validamos os grupos terapêuticos onde a criança nos mostra suas dificuldades interacionais, de convivência, divisão de espaço/objetos, iniciação, troca, etc., momento em que podemos perceber as dificuldades nas relações e de participação no contexto de grupo. Além disto, as terapias em grupo nos possibilitam trabalhar questões específicas que ofereçam suporte para criança na escola no processo de inclusão, o que nos permite uma compreensão da criança em outros contextos que não seja terapia individual.
Sabemos que o mundo social exige na infância, primeiramente, o domínio da política do playground (práxis), o domínio da coordenação motora ampla, das habilidades de subir, descer, pular, correr, etc., realizando ações que permitam a mesma estar inclusa nos contextos do parquinho com as outras crianças, o que influencia diretamente no modo como a criança se percebe, em sua confiança em si mesma e em seus aspectos emocionais. Além dos aspectos motores, nesse mundo se faz necessário saber onde o corpo está no ambiente, fator bastante desafiador no autismo.
Olhando nossas crianças por essa perspectiva, é inegável que seguir sua liderança e interesses é o caminho mais promissor para trabalhar suas dificuldades, para construção do vinculo afetivo, engajamento e ampliação dos círculos interacionais e de comunicação. Quando pensamos em seguir a liderança da criança, não significa abdicar dos limites necessários para qualquer ser humano, não falamos em vagar sem rumo seguindo de brinquedos em brinquedos, queremos expor o fato de se planejar o que deve ser trabalhado com a criança com objetivos em mente a partir de seus interesses.
Nós DIR, não trocamos e não intimidamos, queremos construir pontes afetivas com a criança de modo a validar sua auto estima respeitando seus interesses, que muitas vezes diferentes dos nossos, mas humanos com desejos e anseios. Quem acredita no desenvolvimento, nunca deve esquecer que muitas vezes o interesse da criança é a janela emocional que nos permite saber o que ela pode fazer ou simplesmente não pode fazer.
Amamos seguir a liderança da criança, ela nos conecta. Amamos porque queremos que todas as crianças sejam participantes ativas, queremos iniciação. Não queremos o jogo fornecendo todas as ideias, em que apenas um dos lados crie, proponha, invente. Queremos brincar juntos. Queremos participar da brincadeira e mediar a interação dessa criança com o mundo, contribuindo para que o que é difícil para ela se torne mais fácil. Queremos ajudá-las a superar as lacunas que podem ocorrer sempre que a criança tenta expressar suas intenções. Em alguns momentos discutimos sobre o estar brincando, sobre como quem participava, falava, fazia: éramos nós. É importante se fazer essa pergunta no autismo, quem esta brincando você ou a criança?
Por
Patricia Piacentini – Especialista em Desenvolvimento Infantil, Mestra em Educação Especial e Terapeuta DIR/Floortime
Carol Mota – Pedagoga e Mestra em Educação, Culturas e Identidades — with Patricia Piacentini and Carol Mota.

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