Como profissional gosto muito da
forma dialética que o Modelo Floortime atua. Segue a liderança da criança, entra
no seu mundo e acha seus prazeres e suas alegrias, e a partir daí desafia seus
níveis de desenvolvimento. Isso significa prestar atenção nas suas diferenças
individuais, validando cada processamento sensorial e sua relação emocional com
a família. O Floortime não é apenas uma técnica que usamos para ir ao chão com
a criança, é uma filosofia de interação, é o coração do Modelo DIR.
Gosto muito da maneira que o DIR
conceitua a capacidade do espaço visual e a capacidade de processamento que as
crianças no espectro desenvolvem, principalmente nos anos pré-escolares. Algumas dimensões devem ser
pontuadas, pelos terapeutas, no plano de ação diário com essas crianças, como:
Consciência corporal (esse é o meu corpo e posso chegar a
alguém). A consciência corporal é o senso de onde estamos e o elemento central que
vai nos ajudar a nos relacionarmos com nós mesmos, e com o mundo a nossa volta,
porque é necessário ser capaz de ter consciencia do seu corpo para mover, jogar
e fazer coisas que planejamos no espaco e no tempo.
Localizar o
corpo no espaço (este é o meu corpo, e aonde eu estou no mundo?). Para entender
esse sistema é necessário saber como eu me envolvo na compreensão do meu corpo,
em relação as outras pessoas e ao meio ambiente expandindo para o mundo
A relação com
os objetos e com outras pessoas ao seu redor e a possibilidade de se co-regular,
e em seguida encontrar maneiras de representar a si mesmo dentro desse mesmo
espaço.
Quando a criança começa a dominar
esses sentidos entram no processo do pensamento lógico em torno de conceitos
espacias e visuais, desenvolvendo conceitos de tempo e espaço. A criança inicia
uma necessidade de compreensão que é preciso tempo para ir de um ponto a outro:
que algo está muito longe, que há uma diferença entre hoje e amanhã, e que com
rapidez eles podem se mover através do tempo e do espaço.
Isso as ajudará a pensar
racionalmente o que significam as coisas no momento em que elas estão
acontecendo. Outro fator importante é a lógica e o planejamento de ações espaciais
e visuais, o que chamamos de pensamento representacional.
No DIR estamos sempre falando de
engajamento, até porque começamos com coisas simples como olhar para o rosto da
mãe e saber aonde ela está no espaço, ou podemos começar com o nariz do papai,
que toda vez que tocado emite um som. Olha o quanto conseguimos nessa
brincadeira de interação! São brincadeiras necessárias para chegarmos ao esconde
esconde. O que penso é que existem milhares de brincadeiras que ajudam as
crianças a desenvolverem esse conjunto de sistemas, porém se faz necessário
saber aonde a criança está, para que possamos trabalhar com elas. Muitas vezes
vejo crianças de 4 anos ainda jogando objetos para cima e olhando para ver se
cairam, porém com dificuldades de ver os objetos na esfera de cima, ou apenas
girando os objetos no espaço para que eles fiquem fora da esfera visual. Para essas crianças devemos começar pela
exploração do seu corpo, o corpo do outro como a brincadeira do nariz, para
depois alcançarmos os objetos. A ideia é
começar dentro do alcance da criança, divertidamente, para que ela possa subir
a escada do desenvolvimento com mais consciência corporal. Essa compreensão
deverá passar pelos planos escolares, falo porque nas minhas visitas nas
escolas vejo toda a equipe preocupada na parte pedagógica, o grande desafio, e
na verdade o maior desafio da criança está na localização do espaço visual. Vejo
sempre crianças deitadas brincando com trens devido a dificuldade de se
localizar e se mover no espaço, deixando os trens semi fixos, ou empilherando
os carros na mesma direção. A ideia é que a criança desenvolva o senso de onde
seu corpo está e o que se move no seu campo visual, no caso a capacidade de
planejar a ação. É como se ela não tivesse só se movendo porque algo vem em sua
direção, ou por querer alcançar algo, mas realmente porque planejou a frente.
Eu sempre peço aos pais que envolvam
as crianças em planejamento diário, como lavar um carro, pôr os pratos na mesa.
Tarefas diárias ajudam a organizar a criança, e praticar essas tarefas em casa
vai ajuda-las na rotina escolar.
Quando olhamos para o funcionamento
cognitivo e sensorial precisamos entender como uma criança vem a compreender ou
entender as coisas, o que faz realmente sentido para ela, não apenas o que ela
ouve, mas o que ela vê. Entender a forma como uma criança entende seu mundo
visual. No fundo gastamos um monte de atenção em linguagem, trabalhos acadêmicos
e habilidades sociais, mas não muito sobre esse componente importante. Se
olharmos para as crianças com transtornos do espectro autista, sabemos que
alguns deles, não todos, são pensadores visuais. Algumas crianças tem muito boa
memória visual, eles se lembram de tudo que vêem, outros tem memória visual
fraca e não conseguem lembrar de sons ou palavras, por exemplo: tem criança que
pesquisa os quatro cantos de uma sala e acha o objeto escondido no meio da sala,
tem habilidade de organizar seu campo visual e tem outras que se perdem em
apenas uma pequena parte da sala, como falo “sempre vêem a floresta, mas não
identificam as árvores.”
Se faz necessário
entender que essas crianças precisam de bases sólidas de tratamento, para alcançar
outros níveis. Os planos de sociabilidade só terão resultados se indetificarmos,
enquanto profissionais, o que a criança pode ou não fazer, e muitas das minhas
crianças ainda estão descobrindo o própio movimento, e planejando pequenas ações
como se estivessem em um processo de preparação para o mundo lá fora.
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