segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Desordem do Processamento Sensorial: O que não podemos esquecer!

Desordem do Processamento Sensorial: O que não podemos esquecer!
Todo ser humano tem uma maneira singular de processar e responder a diferentes estímulos. Juntos, nossos sentidos trabalham para nos fornecer informações sobre como estamos situados em um determinado ambiente. Sabemos que a visão, a audição, o paladar, o olfato e o tato são os cinco sentidos mais familiares ao nosso corpo, porém, existem dois sentidos internos adicionais que também nos ajudam processar as informações que vêm a nosso encontro. 
Vestibular é o sentido que passa a informação para os nossos ouvidos e que está relacionado ao movimento e ao equilíbrio. Proprioceptivo é a informação que recebemos dos nossos músculos e articulações, como, por exemplo, a posição que o nosso corpo está ocupando em certo espaço. Uma vez que o cérebro registra a informação sensorial do nosso corpo e processa essa informação, ele a interpreta e a organiza de maneira a executar os devidos comandos que irão responder as informações recebidas. Para muitos pesquisadores, a integração dos sentidos ocorre de maneira imperceptível. Para outros, a integração sensorial acontece de maneira diferenciada, o que pode ser a origem de vários problemas de funcionamento, chamada de Desordem do Processamento Sensorial (DPS).
Desordem do Processamento Sensorial (DPS) – descoberta pela primeira vez, nos anos 50, pelo Dra. Jean Ayres – atinge o sistema nervoso, que provoca dificuldades de compreensão, organização e integração. Talvez essa perturbação ocorra individualmente ou em conjunto com outras, como a dificuldade de atenção, autismo, paralisia cerebral, síndrome de Down, entre outras.
Essa perturbação sensorial varia de pessoa para pessoa e, associada ao stress e desconforto corporal, pode afetar a habilidade da criança e provocar um déficit de atenção na mesma. O que irá afetar profundamente a comunicação, a sociabilidade, o aprendizado, o comportamento e o senso de regularidade da criança. 
Os três tipos mais importantes de processamento sensorial: alta, média e baixa sensibilidade. Refiro-me aos sentidos individuais equilibrando suas reações para que sejam reguladas em quaisquer situações. Por exemplo, crianças que passam por experiências de alta sensibilidade, tendem a sentir sensações muito intensas. Como consequência, elas reagem sempre como se a maioria das situações fossem perigosas e, às vezes, dolorosas. Nesse sentido, na maioria das vezes, tendem a fugir de situações semelhantes. Como consequência, talvez se esquivem quando alguém tentar tocá-las, chegando mesmo a não suportar o contato com as etiquetas das roupas e tornam-se muito agitadas se suas mãos são expostas a texturas de determinados produtos como areia, barro ou lama, por exemplo. Tendo como provável reação gritos durante a lavagem dos cabelos e apresentam verdadeiro ódio de penteá-los. São bem seletivas com alimentação, super sensíveis a cheiros e frequentemente tapam seus ouvidos para não escutarem o barulho de aparelhos como o liquidificador e o aspirador de pó. Fixam a atenção em sons repetitivos como o tic-tac do relógio e se sentem demasiadamente estimuladas em ambientes repletos de objetos. Cobrem os olhos quando são expostas a claridade, rejeitam certos movimentos e brinquedos como o balanço ou o escorrego. As crianças que possuem experiências de baixa sensibilidade têm dificuldades de registrar as informações sensoriais e necessitam de vários estímulos para que possam respondê-las. Na maioria dos casos, elas têm tolerância maior a dor; tendem a andar sem sapatos; constantemente tocam objetos e pessoas; quase sempre estão batendo ou tropeçando em algo; mastigam objetos como lápis; sentem dificuldade em seguir certas direções; falam muito alto; cheiram objetos; perseguem movimentos rápidos e rotativos sem ficarem tontas; adoram balanços, subir em árvores, ou seja, diversões que oferecem algum risco e que se movem constantemente. Já crianças que experienciam a média sensibilidade, talvez possuam alta sensibilidade para certos tipos de estímulos sensoriais e baixa sensibilidade a outros. 
O fundamental é dar a devida importância à questão sensorial e que esta possa ser identificada antes de qualquer intervenção psicológica. Se for identificado qualquer transtorno no processamento sensorial de alguma criança, o procedimento mais adequado deverá ser conduzi-la a uma terapeuta de integração sensorial, que poderá descrever uma dieta e uma sequência de exercícios que estimulará o sistema nervoso e ajudará o cérebro a processar as informações sensoriais necessárias para o seu desenvolvimento.
Patrícia Piacentini
Terapeuta DIR/Floortime

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Quem está brincando, você ou a criança?


Quem está brincando, você ou a criança?
Os interesses da criança são a chave e é assim que tudo se inicia no Floortime, componente do modelo DIR. Nele nos tornamos detetives, investigando qual a porta que a criança abre (espontaneamente) para que nós terapeutas possamos atuar e, junto com a família, expandir os níveis de desenvolvimento. Acreditamos que isto proporcionará à criança uma autonomia emocional, necessária para a resolução de problemas. Às vezes essas portas se abrem nas brincadeiras motoras, outras vezes nas brincadeiras sensoriais, outras nos scrips… o importante é estarmos sempre ali, mediando esse desenvolvimento e validando a iniciação.
Se faz necessário compreender que no desenvolvimento infantil etapas como: relacionamento, engajamento, comunicação, alteração de comportamentos através da compreensão, crescimento emocional, desenvolvimento intelectual e diferenças individuais, são peças fundamentais que qualquer terapeuta precisa validar para mediar a relação da criança com o mundo.
Nós DIR, validamos a criança, suas diferenças individuais, seu estado emocional e suas relações. Assim como Vigotski, que destaca que o homem se constitui como ser humano a partir das interações que estabelece com os outros, acreditamos que o crescimento intelectual e emocional acontece dentro do contexto dos relacionamentos. Por este fator, validamos os grupos terapêuticos onde a criança nos mostra suas dificuldades interacionais, de convivência, divisão de espaço/objetos, iniciação, troca, etc., momento em que podemos perceber as dificuldades nas relações e de participação no contexto de grupo. Além disto, as terapias em grupo nos possibilitam trabalhar questões específicas que ofereçam suporte para criança na escola no processo de inclusão, o que nos permite uma compreensão da criança em outros contextos que não seja terapia individual.
Sabemos que o mundo social exige na infância, primeiramente, o domínio da política do playground (práxis), o domínio da coordenação motora ampla, das habilidades de subir, descer, pular, correr, etc., realizando ações que permitam a mesma estar inclusa nos contextos do parquinho com as outras crianças, o que influencia diretamente no modo como a criança se percebe, em sua confiança em si mesma e em seus aspectos emocionais. Além dos aspectos motores, nesse mundo se faz necessário saber onde o corpo está no ambiente, fator bastante desafiador no autismo.
Olhando nossas crianças por essa perspectiva, é inegável que seguir sua liderança e interesses é o caminho mais promissor para trabalhar suas dificuldades, para construção do vinculo afetivo, engajamento e ampliação dos círculos interacionais e de comunicação. Quando pensamos em seguir a liderança da criança, não significa abdicar dos limites necessários para qualquer ser humano, não falamos em vagar sem rumo seguindo de brinquedos em brinquedos, queremos expor o fato de se planejar o que deve ser trabalhado com a criança com objetivos em mente a partir de seus interesses.
Nós DIR, não trocamos e não intimidamos, queremos construir pontes afetivas com a criança de modo a validar sua auto estima respeitando seus interesses, que muitas vezes diferentes dos nossos, mas humanos com desejos e anseios. Quem acredita no desenvolvimento, nunca deve esquecer que muitas vezes o interesse da criança é a janela emocional que nos permite saber o que ela pode fazer ou simplesmente não pode fazer.
Amamos seguir a liderança da criança, ela nos conecta. Amamos porque queremos que todas as crianças sejam participantes ativas, queremos iniciação. Não queremos o jogo fornecendo todas as ideias, em que apenas um dos lados crie, proponha, invente. Queremos brincar juntos. Queremos participar da brincadeira e mediar a interação dessa criança com o mundo, contribuindo para que o que é difícil para ela se torne mais fácil. Queremos ajudá-las a superar as lacunas que podem ocorrer sempre que a criança tenta expressar suas intenções. Em alguns momentos discutimos sobre o estar brincando, sobre como quem participava, falava, fazia: éramos nós. É importante se fazer essa pergunta no autismo, quem esta brincando você ou a criança?

SUMMER CAMP 2018

Quem está brincando, você ou a criança?

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